Com meia hora de atraso decolamos rumo à Brasília, com a missão de ministrar num Congresso de Família.
No Rio, o céu estava nublado. Ao passar entre as densas nuvens, parecia que todo o percurso estaria assim, mas o avião continuou subindo e logo além das nuvens o sol brilhava intensamente. Enquanto a aeronave ganhava mais altitude, um “mar” de nuvens se avistava logo abaixo, até ao longe e acima o sol brilhava.
Fiquei pensando...
Assim deve ser a família, como um avião, que com força e segurança leva seus tripulantes da nebulosidade ao sol brilhante.
A vida apresenta dias difíceis, dores, tristezas, luto. A família passa por vales de sombra e de morte. É acometida por crises, enfermidades e perdas. “No mundo tereis aflições”, nos disse Jesus.
Conheci uma família que perdeu uma criança que havia acabado de completar 10 anos de idade. Que dor daquela mãe, daquele pai, do irmãozinho!
Conheci outra família que tinha um de seus membros deprimido. Anos a fio lidavam com a ingrata doença.
Eu e você conhecemos muitas famílias com experiências assim. Nossas próprias famílias já passaram por dias difíceis.
Durante nossa existência, há e sempre haverá muitos dias nublados, muitos dias chuvosos.
Não é nada fácil enquanto estamos vivendo dias assim. Temor, dúvida, tristeza, dor, solidão, e tantos outros sentimentos pesados afetam o equilíbrio e a estabilidade pessoal e das relações conjugais e familiares. Para que o caos não se instale ou não desmorone as relações, é preciso calma e cautela. Há ocasiões em que nada se pode fazer a não ser esperar. Esperar em Deus.
Certa vez trabalhei com uma pessoa que passava por uma grave crise existencial. Ela procurava saídas para seus problemas, porém, por mais que procurasse não as encontrava. Ela lutava consigo mesma e com Deus. Queria respostas e elas não chegavam. Enquanto se debatia em meio a sua crise, parecia que toda a sua situação piorava. Depois de várias semanas de luta em vão, aquela pessoa resolveu parar de lutar. Começou a por em exercício o descanso, a fé e a esperança. Durante algum tempo, ainda que as respostas não chegassem, nem que os problemas não se resolvessem, ela experimentava a paz interior e a certeza de que Deus estava no controle. Ela passava por entre as densas nuvens, mas sua fé lhe assegurava que tudo iria melhorar. No tempo de Deus, mas iria melhorar.
Mesmo quando os dias estão nublados, Deus está lá conosco. E a família cristã deve acreditar sempre nisto.
Já vi famílias que se desestabilizaram e casais que se separaram por causa das crises. Não souberam esperar a crise passar. Não puderam crer que aqueles dias difíceis acabariam. Não tinham suporte emocional nem espiritual para resistir. Desmoronaram.
O ser humano tem pouca resistência à dor. Não suporta as dores físicas, muito menos as dores emocionais. Quer que passe depressa. Mas há muitas dores e crises que só o tempo fará passar.
E durante esse tempo de espera, estar em família, encontrar apoio e segurança nela é essencial. A família deve ser um sustentáculo em si mesma, onde todos os seus membros possam encontrar conforto e consolo, possam orar e chorar juntos, possam se abraçar. Que possam crer que, juntos, não haverá o que temer. Assim como a aeronave, forte e resistente deve ser a família, abrigando e conduzindo seus membros através das densas e pesadas nuvens. Porque acima delas o sol sempre brilhará.
Elizabete Bifano
Maio, 2003
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